Medicalização e Tecnologia: uma análise sobre os processos de subjetivação contemporâneos

 

Período 2015- 2016 (Finalizada)

A medicalização da sociedade é um fenômeno que tem sido sinalizado por vários autores desde o século XIX, quando o saber científico se espalhava pelos vários domínios sociais. Mas foi a partir da década de 1940, com a introdução dos psicofármacos, que este fenômeno se tornou cada vez mais intrusivo na vida cotidiana. A discussão que se pretende aqui diz respeito ao processo de medicalização da existência na contemporaneidade, tomando como base analisadora uma fenomenologia dos discursos desta medicalização na forma de tecnificação do viver cotidiano. Ao pensar a relação entre medicamento e tecnologia queremos problematizar o aprisionamento quase total da vida nas malhas de uma lógica técnica que pretende entender a existência humana por princípios deterministas. Percebemos que o homem moderno parece estabelecer com a técnica uma relação instrumental e utilitária em busca não apenas de um viver satisfatório, mas, essencialmente, de uma solução para quase todos os seus problemas. Há a implicação de uma prática social, que por meio de todo um aparato tecnológico, tem transformado a vida cotidiana num problema médico-farmacológico e é esta prática que pretendemos compreender.

Na condição de uma das principais tecnologias contemporâneas de cuidado, o consumo de psicofármacos aparece associado à instalação de uma eficaz química no organismo e emerge como um veículo de acesso à saúde. Parece haver um processo perverso onde o consumo de substâncias, ou melhor, de pílulas cada vez mais diversificadas, torna-se uma forma de produzir equivalências às noções atribuídas à saúde e uma forma de gerar pertencimentos de normalização legitimados socialmente. Assim, compreender os efeitos agenciadores do fenômeno da medicalização nos modos de subjetivação contemporâneos implica em entender como se atualizam as estratégias biopolíticas que instauram uma normalidade medicalizada, na qual a expressão de qualquer sofrimento não se torna objeto de reflexão e busca de construção de outras formas de ser, mas sim de um entorpecimento das emoções.

 

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